A inabalável lealdade canina: de Bobby a Hachiko, dois ícones de amor e fidelidade

Em cada canto do mundo, há histórias que tocam o coração de forma única, mas poucas narrativas são tão comoventes quanto a lealdade de cães por seus tutores. Em minha recente viagem ao Reino Unido, no dia 13 de setembro deste ano, tive a oportunidade de conhecer a icônica estátua de Greyfriars Bobby, em Edimburgo, Escócia. Esta experiência me fez relembrar outra visita significativa, no ano passado, em 7 de abril, quando estive no Japão e visitei a famosa estátua de Hachiko, em Tóquio. Ambas as histórias, apesar de culturalmente distintas, ecoam uma verdade universal: a lealdade dos cães transcende tempo, fronteiras e até a morte.
Quando estive em Edimburgo, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a estátua de Bobby, localizada na esquina de Candlemaker Row com George IV Bridge, próxima à entrada do cemitério de Greyfriars. Esta pequena estátua de bronze de um Skye Terrier é a homenagem mais conhecida a Bobby, um cão cuja lealdade tocou a cidade. No entanto, essa não é a única homenagem a ele. Há uma segunda estátua de Bobby dentro do próprio cemitério, próxima ao túmulo de seu tutor, John Gray. Enquanto a estátua externa é um ponto turístico famoso, a interna é um local mais íntimo, onde visitantes prestam homenagens à devoção de Bobby.
Bobby era o fiel companheiro de John Gray, um policial da cidade de Edimburgo que trabalhava como guarda noturno. Durante anos, os dois patrulharam juntos as ruas da cidade, criando uma conexão inseparável. No entanto, em 1858, Gray faleceu devido à tuberculose e foi enterrado no cemitério de Greyfriars. Após sua morte, Bobby passou a vigiar o túmulo de seu tutor diariamente, mostrando uma devoção inquebrável. Por 14 anos, o pequeno cão guardou o local, recusando-se a abandonar a sepultura de John Gray, mesmo sob chuva, neve ou sol.
A fama de Bobby logo se espalhou pela cidade, e os habitantes começaram a cuidar dele, alimentando-o e oferecendo abrigo. Sua lealdade se tornou uma história tão emblemática que, em 1872, quando Bobby faleceu, a cidade fez uma exceção para enterrá-lo próximo ao túmulo de seu tutor, dentro do cemitério de Greyfriars, ainda que, à época, fosse proibido enterrar animais em solo consagrado. Assim, os dois companheiros permanecem juntos até hoje, lado a lado, mesmo na morte.
No Japão, durante minha visita em 7 de abril do ano passado, fiquei igualmente tocado ao conhecer a história de Hachiko, o cão que se tornou um símbolo de lealdade em Tóquio. Assim como Bobby, Hachiko demonstrou uma devoção inabalável por seu tutor, o professor Hidesaburo Ueno, que lecionava na Universidade de Tóquio. Todos os dias, Hachiko acompanhava Ueno até a estação de Shibuya e esperava seu retorno no final da tarde. No entanto, em maio de 1925, o professor faleceu subitamente, enquanto estava no trabalho, vítima de uma hemorragia cerebral.
Mesmo após a morte de seu tutor, Hachiko continuou indo à estação todos os dias, durante quase 10 anos, esperando o retorno de Ueno. Sua persistência comoveu a todos que frequentavam a estação, e sua história se tornou amplamente conhecida quando um ex-aluno de Ueno escreveu sobre a lealdade do cão, tornando-o famoso em todo o Japão. Em 1934, uma estátua de bronze de Hachiko foi erguida na entrada da estação de Shibuya, e o próprio cão esteve presente na inauguração.
Durante a Segunda Guerra Mundial, no entanto, a estátua original de Hachiko foi derretida para uso no esforço de guerra. Felizmente, em 1948, a estátua foi refeita, desta vez pelo escultor Takeshi Ando, filho do artista que criou a primeira. Desde então, a nova estátua de Hachiko permanece na estação de Shibuya, um ponto de encontro popular em Tóquio e um símbolo atemporal da lealdade canina.
As histórias de Bobby e Hachiko revelam o poder emocional da lealdade dos cães. Bobby vigiou o túmulo de John Gray por mais de uma década, e Hachiko esperou diariamente na estação de Shibuya pela volta de seu tutor falecido. Ambos os cães, com suas ações, conquistaram o carinho de suas respectivas cidades e, eventualmente, do mundo inteiro. Essas estátuas em Edimburgo e Tóquio não são apenas homenagens a animais leais, mas lembranças de que os laços entre humanos e cães podem ser eternos.
As comoventes histórias de Bobby e Hachiko não apenas tocaram o coração de suas cidades, mas também foram imortalizadas em diversos livros e filmes. A história de Greyfriars Bobby foi retratada no livro “Greyfriars Bobby” (1912), escrito por Eleanor Atkinson, e mais tarde ganhou duas adaptações cinematográficas com o filme da Disney “Greyfriars Bobby: The True Story of a Dog” ((Meu Leal Companheiro no Brasil), de 1961, e com o filme Greyfriars Bobby, em 2005.  Já a história de Hachiko inspirou o filme japonês “Hachiko Monogatari” (1987) e, em uma adaptação ocidental, o filme “Sempre ao Seu Lado” (2009), estrelado por Richard Gere. Esses filmes e livros ajudaram a espalhar pelo mundo as lições de lealdade e amor que esses cães extraordinários deixaram como legado.
Esses cães ensinam a todos nós sobre o valor do companheirismo, a dedicação incondicional e a profundidade emocional que pode existir entre os humanos e seus animais de estimação. Tanto Bobby quanto Hachiko provaram que a verdadeira lealdade não é motivada por recompensas ou ganhos materiais, mas sim por uma conexão profunda e pura.
A lealdade de cães como Bobby e Hachiko é uma poderosa lembrança do impacto emocional que esses animais têm em nossas vidas. Ao visitar suas estátuas, é impossível não ser tocado pela devoção incondicional que ambos demonstraram, mesmo após a morte de seus tutores. Seja em Edimburgo ou em Tóquio, as estátuas de Bobby e Hachiko continuam a inspirar gerações e a nos ensinar que o verdadeiro amor e lealdade transcendem tempo e distância, permanecendo para sempre gravados na memória e no coração das pessoas que conhecem suas histórias.

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