Breno Guimarães: Qual o futuro de Lula?

O roteiro de 2022 realmente surpreendeu os espectadores deste Brasil. Agora, 2023 se aproxima com um cliffhanger completamente envolvente: na antessala da posse do novo mandatário federal, assistimos à tentativa de invasão da PF com cenas chocantes. O episódio preludia os ânimos dos eleitores com esse final de temporada. Pensando nisso, vale fazer algumas considerações sobre o cenário que aguarda Lula em sua terceira passagem pelo Planalto.
Há 20 anos atrás, quando Lula superou José Serra por 19,4 milhões de votos, além da vitória e maioria de cadeiras na Câmara dos Deputados, o mandatário de primeira viagem viabilizou um invejável capital político para a sua governabilidade – que facilitou sua vida durante a formação de apoio no congresso. Era o primeiro governo do PT a nível nacional desde sua fundação em 1980, e grandes percalços ocorreram durante esse período.
O mais emblemático deles, sem dúvidas, foi a derrota na eleição à Mesa Diretora para o deputado Severino Cavalcanti, candidato da “zebra” e expoente do baixo clero na Câmara dos Deputados – vitória impensável e similar às que eliminaram países favoritos na copa de 2022. O choque interno ficou evidente quando dois candidatos do partido, um pelo governo e outro de um setor do partido, dividiram os votos na fracassada eleição.
Isso sem contar com a diáspora que a sigla teve com o surgimento do PSOL após rusgas internas, e o próprio escândalo do Mensalão que abalaram o final de seu primeiro mandato. Outro exemplo ocorreu alguns anos mais tarde, em 2016, quando o partido foi derrotado pelo grupo de Eduardo Cunha, dada a incapacidade do governo em apresentar uma candidatura competitiva – e o resto da história nós já sabemos.
Vinte anos se passaram e Lula já não pode mais contar o capital político de antes por diversos motivos. Dentre eles, uma oposição que conta com a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados e uma polarização sem precedentes, que dividiu os eleitores e garantiu uma diferença mínima na disputa com Jair Bolsonaro, de 2,1 milhões de votos. Assim, amparado nas experiências frustradas do passado, Lula vem construindo alianças com os atuais presidentes das mesas diretoras e líderes partidários para a criação de um bloco informal de apoio ao governo.
Estes acordos perpassam distribuições de ministérios e cargos. É o caso do PSD, que, ao que tudo indica, receberá um ministério em troca do apoio do governo à reeleição de Rodrigo Pacheco na Presidência do Senado e, também, cederá uma secretaria na prefeitura do Rio de Janeiro para o PT. Este é o espírito até o primeiro de janeiro: acomodar todos os aliados da frente ampla nos seus ministérios. O que dificilmente será feito sem deixar chagas mal cicatrizadas ou desagradando setores da sociedade no caminho.
Um caso recente foram as críticas do mercado contra a nomeação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. O governo aposta alto para colher os frutos desta decisão, replicando a boa avaliação de Antonio Palocci pelo mercado durante sua gestão – vale lembrar que o ministro não tinha formação em economia e fora bem assessorado pelo corpo técnico do ministério.
Sem dúvidas, o posto é um dos mais difíceis do mundo, onde os vidros da vitrine são frágeis, revestidos de ímãs e as pedras da oposição de metal puro. Talvez mais difícil que isso seja o ofício de analista político. Prever como os acordos e votações vão se dar pode ser tarefa muito ingrata, uma vez que a casa das cartas sempre pode desmanchar no xadrez político.
Para finalizar, estou convencido de que os espectadores desta trama estão ansiosos pelos dias que passam. A agenda política está tomada por esses desafios e a futura temporada começa a ser escrita de acordo com a sucessão destes arranjos. Lula fez o dever de casa de todo governante estudando o passado, e agora ambiciona sair maior nesta batalha pela sustentação durante seu mandato. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Patricia Oliveira

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