História do “Esqueleto” do Gávea Tourist Hotel

São cerca de 30 mil metros quadrados de área, que contariam com um restaurante, um bosque e até teleférico. Não se trata de uma edificação antiga, um exemplar notável do período colonial, mas uma obra produzida quando a arquitetura moderna brasileira ganhava prestígio internacional, através de profissionais como Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer que, coincidentemente, projetou e construiu sua própria residência na mesma época e na mesma estrada do Gávea Tourist Hotel, como o empreendimento foi denominado desde seu lançamento, no início da década de 1950.
Em 1953 seria lançado um novo e revolucionário empreendimento, conforme a farta propaganda na imprensa anunciava: o Gávea Tourist Hotel, oferecendo cotas de participação para os interessados pela Companhia Califórnia de Investimentos.
Propaganda na imprensa para estimular a venda de cotas, 1956
O projeto, desenvolvido pelo arquiteto Décio da Silva Pacheco, adotava os princípios da arquitetura moderna, como planta sobre pilotis, pavimento livre, terraço ocupado, muito semelhante a edifícios afins contemporâneos, como o edifício para a Faculdade Nacional de Arquitetura, na Ilha do Fundão ou o Hospital dos Marítimos, na Lagoa.
Os pilotis adotavam colunas em “V”, outro elemento usual na produção daquela década, inclusive em edifícios residenciais, sob um prisma vertical de 15 pavimentos, com rígida ortogonalidade.
A proposta era destinada a um público de alta renda, distribuído por 440 quartos, providos basicamente de saleta, bar, pequena cozinha e uma varanda voltada para o mar e um amplo programa de atendimento comum aos hóspedes com piscina, restaurante, teatro.
Folheto promocional / piscina com pilares em V
Em 1959, a imprensa noticiava que a estrutura estava pronta, onde foi colocado um letreiro luminoso com o nome do hotel, visto à distância, mas a inauguração era rotineiramente adiada. Em 1963, para justificar o empreendimento e aplacar a paciência dos investidores, foi inaugurada uma boate no 14º pavimento, Sky Terrasse, de vida curta, mas muito sucesso, inclusive abrigando uma famosa festa de réveillon em 1965, comemorando o quarto centenário do Rio.
Mesmo inacabado, o espaço chegou a ser usado para algumas atividades: em 1965 foi realizada uma grande festa de réveillon e uma boate, chamada Sky Terrace, que funcionou por um tempo no térreo do imóvel. Em 1969 foi anunciada a entrega dos primeiros apartamentos e a reabertura da boate, com projeto da arquiteta Eneida Palhano, mas pouco durou.
Entretanto, em março de 1972, as obras do Hotel foram interrompidas pela incorporadora Califórnia Investimentos, que assumiria a construção. Cinco anos depois, essa empresa decretou falência e os trabalhos pararam de vez.
Sem recursos para vigiar o que restou da obra, os proprietários não tiveram como evitar que os materiais de construção e os elevadores suíços (que seriam usados no Hotel e já estavam no espaço onde a obra era realizada) fossem furtados.
A partir do início dos anos 1980, a construção do Gávea Tourist Hotel passou a servir de abrigo de moradores de rua e esconderijos de criminosos. Contudo, recentemente, o “Esqueleto”, como a construção passou a ser conhecida, começou a ser visitado por pessoas com outras intenções.

Muita gente tem subido os 272 degraus e 16 andares do prédio para apreciar o que se pode ver lá do topo. No meio da Floresta da Tijuca, o “Esqueleto” possibilita uma bela vista do mar de São Conrado e a Pedra da Gávea.
“Além das belas fotos que dá para tirar de lá, tem um pessoal que está praticando esportes, como rapel, skate”, conta Gustavo Souza, morador da Gávea, que costumava ir com amigos ao “Esqueleto”.

O “Esqueleto” já apareceu em ensaios fotográficos de modelos e em clipe de música. O rapper Daniel Shadow usou o local para gravar “Luz da Perdição”, que contou com a participação de Filipe Ret. No fim do ano passado, o ator Cauã Reymond postou em seu Instagram uma foto sentado na beira da cobertura do prédio.
De acordo com o site Aventuras na História, o atual dono do Gávea Tourist Hotel, Jamil Elias Suaiden tinha o desejo de destruir a construção e, no lugar, fazer outro hotel luxuoso de quatro estrelas, dessa vez com aproximadamente 600 quartos além de um centro de convenções para os hóspedes.
Contudo, o plano de Jamil foi impedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que não autorizou que o prédio fosse alterado, por estar dentro da Floresta da Tijuca e ser próximo da Casa das Canoas, que são áreas tombadas como Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera e Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Em 2023, chegou a ser noticiado mpreendimento, que o local passaria por reformar e passaria a ser o Gávea Boutique & Extended Stay Hotel, esteja em funcionamento a partir de 2026, mas de forma mais compacta. Os 440 apartamentos do projeto inicial serão transformados em 80 de um hotel-boutique e 150 unidades de acomodação “long stay” – em que a hospedagem oferece comodidades semelhantes às de um apartamento residencial. Depois disso não surgiu mais nenhuma informação.


Com isso, a construção continua abandonada e aberta para a visitação, sem contar com nenhuma fiscalização de nenhum órgão do governo do Rio de Janeiro, ou contratada pelo próprio dono. E rendendo boas fotos.
No Rio de Janeiro, até os imóveis que não tiveram as obras finalizadas têm muita história para ser contada.

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