História sob os pés: Conheça as narrativas históricas que os bueiros do Rio carregam

Na cidade do Rio de Janeiro, existem diversos monumentos históricos pouco conhecidos pelos cariocas e turistas que visitam o Estado. Alguns desses lugares resistiram às mudanças ao longo dos 459 anos de história do município. Um exemplo é o Morro do Castelo, local onde a ocupação da cidade teve início, porém, foi destruído no início do século passado.
De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade começou no Morro de São Januário, depois conhecido como Morro do Castelo, e posteriormente na Praça Quinze, que ainda hoje é considerada o centro vital do Rio de Janeiro. Ao longo dos anos, algumas situações na região foram mudando, no início do século XX, surgiram ruas largas e construções imponentes, muitas seguindo o estilo francês fin-de-siècle.
Dessa forma, nos detalhes da paisagem urbana, pode-se encontrar a história de uma cidade. Desde o traçado de uma rua estreita até os ornamentos de um chafariz ou os bueiros no chão, cada elemento traz memórias e significados que revelam o passado de um local. Essas pequenas “pistas” são fundamentais para compreender e revisitar a memória de uma cidade.
No seu trajeto diário, você e milhares de pessoas pisam no passado do Rio sem saber. Isso mesmo, estamos falando dos bueiros nas ruas cariocas. Conhecidos por entupirem nas chuvas, eles têm mais relatos em suas tampas do que você imagina. O advogado e mestrando de políticas públicas, Thiago Süssekind, de 25 anos, percebeu isso e publicou um vídeo nas redes sociais, “A História pelos Bueiros do Rio”. O vídeo viralizou, e contamos essa história detalhadamente aqui no DÍARIO DO RIO, destacando a importância desse conhecimento específico revelado pelo jovem.
Depois de um ano, Süssekind, está de volta com a continuação do vídeo, que agora dura cerca de seis minutos. Ele nos conduz por siglas esquecidas em bueiros raros que revelam as “transformações políticas e tecnológicas” do Rio, conforme mencionado pelo autor no primeiro vídeo. Nesta segunda parte, ele explora mais detalhes dessas abreviaturas e conta em um formato cronológico às mudanças nas trajetórias e na gramática instituídas por leis antigas.
O jovem inicia sua narrativa abordando o bueiro favorito do primeiro vídeo, o da Repartição-Geral dos Telégrafos (RGT). Este canal de escoamento é considerado bastante antigo e continua presente nas ruas cariocas, com um tampão da extinta empresa que operou entre 1881 e 1931. Além da RGT, Thiago menciona o DCT, Departamento de Correios e Telégrafos, que sucedeu a RGT de 1931 a 1969, formado pela fusão com o Departamento de Correios, ou seja,  sendo os “avós da ECT”, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, conhecido como os Correios.
Thiago também discute sistemas de drenagem com abreviações que podem ser confusas, como o bueiro com a sigla “PDF”. No vídeo, ele brinca ao dizer que não se trata de um arquivo de computador e explora a origem desse objeto, originário da Prefeitura do Distrito Federal. Este sistema remonta aos tempos em que o Rio de Janeiro era a capital do país, antes de 1960, quando a capital foi transferida para Brasília, e após 1891, quando a primeira Constituição da República atribuiu esse nome à cidade. Mais tarde, o Rio se tornou o Estado da Guanabara, posição que perdurou até 1975, quando o atual Estado do Rio de Janeiro foi formado pela incorporação ao então Estado da Guanabara.
Ao longo do vídeo, Süssekind do mesmo modo apresenta o tampão da “CTB”, a Companhia Telefônica Brasileira, fundada em 1923 e extinta em 1976. Ele também observa que, ao prestar atenção enquanto caminha pelas ruas, pode-se encontrar outra preciosidade: bueiros com a grafia antiga, utilizando “PH” para escrever telefone. Essa grafia foi alterada com a Reforma Ortográfica de 1931, tornada obrigatória em 1938.
Nesse sentido, Thiago ressalta os bueiros antigos com a grafia “Gaz” em vez de “Gás”, uma peculiaridade anterior ao Decreto 20.108 de Getúlio Vargas, que padronizou a ortografia com “S” final para palavras monossilábicas. Ele também faz menção à Companhia de Carris Luz e Força, ativa de 1911 a 1968, responsável pela operação dos bondinhos na cidade.
Além desses exemplos, o advogado, observa bueiros de outros órgãos e serviços históricos, como o Departamento de Saneamentos (DES), o Departamento de Abastecimento de Água (DAA) e o Serviço de Tráfego do Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP). Ele revela a diversidade desses artefatos urbanos que remontam a diferentes períodos da história carioca, sendo alguns deles adornados com detalhes artísticos.
Há tantas histórias nos bueiros que você pode se sentir um pouco confuso e com vários pensamentos na cabeça, mas não se preocupe. Thiago explica tudo de forma fácil, simples e rápida no vídeo.
Agora, o DIÁRIO DO RIO vai percorrer as ruas, observando os bueiros da CET-Rio, Light, Cedae e outros mais modernos, enquanto analisa as ações de restauração e medidas de proteção das peças contra furtos por moradores em situação de rua pela Prefeitura. É crucial valorizar esses elementos que narram histórias significativas sobre o passado da cidade, encontrados literalmente sob os pés dos cariocas.

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