Criada pelo brasileiro Geraldo Marques, plataforma conecta startups e investidores por meio da venda de criptoativos lastreados em participação societária; primeiro pool de investidores aportou R$ 22 milhões em 10 empresas
A uShark quer aproveitar o interesse de pequenos investidores por tecnologias disruptivas para crescer. Criada pelo brasileiro Geraldo Marques há apenas um ano, a startup conecta investidores — sejam eles pessoa física ou jurídica, como fundos — a pequenas empresas por meio da venda de criptoativos.
Longe de ser um fundo de venture capital, a uShark não se responsabiliza por intermediar grandes cheques às startups, mas sim criar um ambiente digital onde empresas promissoras possam se “candidatar” a investimentos por um número considerável de investidores, dispostos a colocar valores menores, ainda que em maior quantidade.
A ideia para o negócio surgiu após um período de estudos de Marques na Escola de Negócios de Harvard. Em um curso envolvendo aspirantes a empreendedores com ideias de negócio promissoras, a proposta de criar um negócio que antecipasse no Brasil o “boom” cripto já visto no exterior despertou a atenção dos docentes.
“O grande incentivo para a criação da empresa veio de um professor, que disse que seríamos muito bem-sucedidos se levássemos a ideia adiante”, conta Marques. “Ter essa opinião vindo de um mentor tão experiente foi um grande fôlego”.
A ideia saiu do papel após o apoio da Harvard Angels, com mentoria de envolvidos da organização de investidores anjo no modelo de negócio da startup. Em fevereiro de 2022, com R$ 1,5 milhão dos sócios e depois todas as aprovações regulatórias, a plataforma passou a operar.
O que faz o negócio
Atualmente, a uShark funciona como uma plataforma de investimentos em startups que conecta empreendedores e investidores a partir da venda de criptoativos. A ideia é que empresas de pequeno porte possam negociar suas cotas acionárias para um grande número de investidores, num modelo similar ao do equity crowdfunding. O diferencial, contudo, está na negociação de criptoativos lastreados no equity dessas empresas, um proprietário da uShark.
Por trás da composição do portfólio de empresas investidas está uma curadoria feita por sete especialistas do mercado, chamados por lá de uShark Angels. Como mentores, esses especialistas fazem parte de instituições como Harvard Angels Chicago, Oxford, Stanford, Cubo Itaú e Sebrae for Startups.
Para passarem pelo crivo dos especialistas, segundo Marques, as empresas devem ter passado ou estar participando de um processo de aceleração em hubs e aceleradoras de renome.
Após esse processo, passam por um processo de votação por um comitê de investimentos do fundo de private equity uShark. Se obtiverem 50% +1 dos votos favoráveis dos investidores detentores dos tokens, as startups são inseridas publicamente na plataforma da UShark, hoje detentora de uma base de 26.000 investidores de 59 países.
Os resultados do negócio
Menos de um ano após estrear no mercado, o token da uShark, atualmente listado em 3 corretoras globais, já foi revendido para mais de 26.000 investidores. Ao todo, a empresa já captou US$ 14,5 milhões, algo como R$ 76,5 milhões.
Desse total, a uShark já destinou US$ 4,3 milhões (cerca de R$ 22,3 milhões) em 10 startups, sendo seis brasileiras.
A participação de startups brasileiras na primeira leva de investidas se justifica pelo atual momento de desvalorização do real e da relação dessas empresas com setores “à prova da crise”, como o agronegócio — todas as startups do Brasil são agtechs, biotechs ou desenvolvem tecnologia de IA e IoT para o agro. “O câmbio desvalorizado facilitou a seleção de startups brasileiras, porque investidores conseguiram alocar mais capital, por menos.”, diz. “Além disso, acabamos tirando proveito da crise. O timing foi perfeito”.
As empresas vão receber seus respectivos valores investidos em dólar e o total de cada uma será distribuído ao longo de seis meses, a partir da comprovação da aplicação dos recursos no negócio.
A principal razão do sucesso do negócio da uShark está ligada ao fato de que, ao contrário de tokens e criptoativos sem lastro ou ativos, a plataforma uShark atende de forma clara essa demanda. Os recursos captados na venda dos tokens já estão sendo investidos em um portfólio diverso e global de startups provenientes de Hubs e Aceleradoras parceiras e de renome, tanto no Brasil como em outros países, tais como: EUA, Israel, Canadá e Emirados Árabes.
Segundo Marques, o sucesso da uShark está baseado na ligação direta entre o valor dessas startups e os tokens.
Para ele, muitos investidores, até o momento, decidiram manter certo distanciamento do tema cripto por não conseguirem enxergar o valor concreto a partir dessas transações envolvendo um universo de mais de 22.000 moedas já existentes. A UShark contraria esse racional. “Fomos na contramão, com coragem e com um modelo ainda inexistente no mercado”, diz. “O valor é o equity de uma startup em ascensão. O benefício é claro”.
Com o pé no chão, a uShark pretende multiplicar por cinco o total de investidas no próximo ano. “O escândalo da FTX abalou o mercado de cripto. Então nossas metas dependem de quanto tempo o mercado vai levar para se recuperar desse baque. Mas nossa meta para os próximos cinco anos é ter 1.000 startups investidas”, diz.
As investidas da uShark
Neste primeiro momento, a uShark alocou R$ 22.35 milhões em 10 startups. São elas:
DataSíntese (EUA) – startup de big data nascida no centro-este do Brasil, hoje Americana, possui tecnologias de Big Data, Data Analytics, IA e Machine Learning para tomada de decisões;
Paygiliant (Israel) – startup de cibersegurança com solução de prevenção de fraudes para fintech, projetada para proteger bancos, eWallets, Crypto e muito mais;
Sling Insurance (Israel) – Startup de cibersegurança que propõe um seguro cibernético contínuo e inteligente que monitora automaticamente a Darknet e a superfície de ataque em busca de riscos e ameaças;
Wisesight (Israel) – startup de IA que desenvolveu tecnologia de IA para criar “estacionamentos inteligentes”, oferecendo gestão automática de estacionamentos em tempo real;
Agholmes (Brasil) – Agholmes é uma plataforma que utiliza IA para realizar auditorias contábeis e identificar erros nas demonstrações contábeis x obrigações acessórias e informações tributárias;
Cyklope (Brasil) – Startup que usa IA para o manejo de resistência, ou seja, uso de defensivos na medida exata para redução de pragas. Agricultura de precisão,usa imagens e mapas de calor;
Kalliandra (Brasil) – Startup brasileira, possui tecnologia de manejo de irrigação com dados via IoT. Com o foco em agricultura irrigada possui uma série de equipamentos para monitoramento da irrigação;
Agrimapp (Brasil) – É um aplicativo de apoio logístico de rotas rurais, uma ferramenta de uso objetivo e prático, que pode ser usada por diferentes públicos, desde gestores até motoristas;
Agro Insight (Brasil) – Educação e curadoria para que os profissionais do Agronegócios possam encontrar conteúdo digital de qualidade em um só lugar;
Fire Limit (Brasil) – Solução concebida para combater, bloquear e extinguir incêndios florestais e agrícolas de grandes proporções. Comparada à água, é 5 vezes mais eficaz no combate ao incêndio e 100% biodegradável.
Fonte: Exame
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