Presidente da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) deu longa entrevista ao programa “UOL News“, do “UOL“, na noite desta quarta-feira (24/4) e revelou mais detalhes da reunião secreta que teve com John Textor, dono da SAF do Botafogo, após o depoimento na segunda-feira.
Kajuru revelou que Textor mostrou a ele vídeos de câmeras instaladas pelo dono da SAF do Botafogo que contrapõem a imagens oficiais do VAR, o que classificou como “imagens preocupantes“, que serão posteriormente disponibilizadas publicamente.
– As imagens que ele mostrou a nós na reunião secreta, algumas são preocupantes, de indícios poderem virar provas. Vocês vão ver, até semana que vem estarão nas mãos de vocês. Tem uma edição do VAR… Porque o VAR fez uma edição de uma imagem de um impedimento que não aconteceu? Ele trouxe imagens não só do VAR. Ele tinha uma empresa que ele contratou que ficava atrás dos gols mostrando. Ele tinha duas imagens, a do VAR e a dele. Oitenta por cento do que ele nos trouxe eu não vou dar nenhuma credibilidade, e tem 20% que eu, como parlamentar, não serei irresponsável de não investigar esses 20% que colocam indícios como amanhã provas – disse, continuando:
– Ele nos apresentou por duas horas, na reunião secreta, imagens não só as do VAR, como de uma empresa contratada por ele. Portanto, temos dois lados. Tem jogos em que você vê a imagem do VAR e da empresa dele. De todos os jogos que falou, só levei a sério dois. Nesses dois, fiquei em dúvida, e as imagens mostram que o VAR editou, fez uma edição. Isso é crime ou não? O VAR fazer uma edição? Isso tem provas, vocês vão ver. Que aí vem a outra imagem e vê que o lance é inquestionável. Tem lance de pênalti, de impedimento…
O senador falou também sobre o jogo Palmeiras 5×0 São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro de 2023. O relatório da “Good Game!”, usado por Textor para fazer as denúncias, mostra comportamento fora do padrão de jogadores do time tricolor. Kajuru afirmou que quer investigar dois dos cinco gols marcados pelo Alviverde.
– Tem um lance em que o atacante entra na área para fazer o gol e o zagueiro que estava lado a lado dele se afasta oceanicamente, quase falando: “Transito livre, faça o gol”. Portanto, dos cinco gols, dois eu quero investigar. Não estou ainda dizendo que tenho provas, fui absolutamente cauteloso ao dizer que não há provas ainda, há indícios que podem virar provas. E de tudo que apresentou, só vejo duas. A outra é em cima de vários lances, mas o jogo foi entre Flamengo e Palmeiras. Ele mostrou um monte, estou colocando dois jogos. Eu não posso ser considerado ser um senador que estou dando crédito a alguém que eu não conheço, não sei nem quem é – disse.
Jorge Kajuru afirmou ainda que John Textor não falou apenas de jogos que teriam prejudicado o Botafogo no Brasileirão, revelando nome de outros clubes envolvidos em jogos com suspeita de manipulação.
– Só teve um ponto positivo para mim. Ele não se limitou ao Botafogo apenas. Claro que 80% defendendo o Botafogo e esculhambando que o Palmeiras ganhou o Campeonato Brasileiro de forma corrupta, tanto que ele chamou o juiz de corrupto na CPI e não se arrepende. Ele fala com respeito da Leila, do Palmeiras, morre de medo dela, mas ao mesmo tempo coloca cinco jogadores do São Paulo como corruptos. Ele falou de outros times e todos da Série A. Não falou de time de Série B, Série C, e nos entregou 180 páginas. E o presidente da CBF me enviou o relatório da empresa (SportRadar) que aponta 109 partidas com suspeição de manipulação de resultados. Ele não se limitou ao Botafogo. Tem Palmeiras, Flamengo, Vasco, Fortaleza, São Paulo, Bahia… – explicou.
🎙️ Veja outras declarações de Jorge Kajuru ao ‘UOL News’:
GRAVAÇÃO DE ÁRBITRO: “Eu não ponho a mão no fogo por ninguém. Textor não é um santo que se apresenta, daqui a pouco poderemos ter a certeza de que ele é um santo do pau oco. Evidente que não estou crendo em tudo que ele nos apresentou, mas tem fatos que eu não posso, enquanto jornalista, ignorar. Temos uma gravação, que eu ouvi, ele botou o telefone na minha mão, de um árbitro dizendo que inventou um pênalti porque prometeu aquilo a quem lhe ofereceu a propina. Como que eu, parlamentar e presidente de uma CPI, não vou levar isso a sério? Eu vou ignorar? Eu não posso ignorar.”
CRENÇA EM JOHN TEXTOR: “Não tenho como canonizar o Textor. Ele veio nos apresentar coisas, imagens e falas muito mais em função do Palmeiras ter sido campeão brasileiro, que para mim foi por méritos, e não por compra de arbitragem, dificilmente alguém vai me fazer acreditar… Outros senadores estão crendo nele totalmente, mas eu não.”
TEXTOR PODE SER INDICIADO? “Eu fui o único dos 81 senadores que subiu na tribuna e falou, no primeiro dia da CPI, que, se não houver prova de tudo o que Textor nos trouxe, ou seja, que ele nos ludibriou, já entrei com projeto pedindo o banimento do futebol brasileiro, para ele ser expulso do Brasil, não só do Botafogo. Se ele for moleque, se veio para bagunçar o futebol brasileiro, como a presidente do Palmeiras entende. Solicitei e entrei com esse pedido oficial de banimento se ele não tiver provas, se for apenas um falastrão ou um fanfarrão.”
RISCO DE PARAR O BRASILEIRÃO? “Ontem falei que a Anaf merecia aplausos para paralisar o Campeonato Brasileiro. Hoje, repensei. Não tenho compromisso com erro, quando erro, volto atrás. A associação cita que nenhum juiz manipulou resultado de futebol. Como não, se tem essa gravação? A associação não pode nunca dizer que não existe manipulação. Hoje eu recuo. Acho melhor seguir a investigação, seguir o campeonato, e havendo uma prova mais forte, aí sim é motivo para paralisar o campeonato.”
▶️ Veja a entrevista completa: