As mulheres constituem a maior parte do eleitorado brasileiro, número que abrange mesárias e mesários voluntários, além do público que comparece às urnas. No entanto, o cenário é diferente quando se trata de representatividade na política e equidade de gênero nos espaços de poder. Apesar de compor a maioria da população brasileira – 51,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – as mulheres continuam sub-representadas nestes espaços. No Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do país, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das 51 vagas da Câmara de Vereadores, apenas 11 são ocupadas por mulheres.
Ao levarmos em consideração um recorte interseccional – de classe, raça e gênero – sabemos que mulheres negras enfrentam duplas discriminações na política: racismo e sexismo. Elas lidam com estereótipos negativos, discriminação racial e de gênero, e frequentemente são subestimadas e desqualificadas. A violência política é um problema grave que afeta mulheres negras de maneira exponencial. Essa violência pode ser física, psicológica, moral ou simbólica, e visa atacar, intimidar, silenciar e excluir nós, mulheres negras, do processo político.
Em decisão recente, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, anunciou a criação de um grupo de trabalho para debater a participação feminina na política e combater a violência política de gênero. O grupo, denominado Observatório de Direitos Políticos Fundamentais da Mulher, é mais um passo importante na luta pela democracia e igualdade de direitos.
No mês em que celebramos o Dia Internacional da Democracia (15/09), não temos muito o que comemorar quando pensamos na vida política e na ocupação dos espaços de poder pelas mulheres. De acordo com a União Interparlamentar, organização internacional responsável pela análise dos parlamentos mundiais, dentre 192 países, o Brasil aparece na 142° colocação do ranking de participação de mulheres na política nacional.
Um levantamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou que somente 45 cidades, dentre as 5.568 que realizaram eleições municipais em 2020, têm maioria de mulheres na composição das Câmaras de Vereadores, valor que não chega a 1% do total dos municípios. Mulheres representam apenas 16% dos vereadores eleitos no país. Quando falamos em mulheres negras, esses números são ainda mais alarmantes: apenas 6,3% são mulheres negras.
Enquanto mulher negra e periférica, de Cosmos, região considerada “extrema Zona Oeste”, encaro como imprescindível lutar pela igualdade de gênero e representatividade no Legislativo. Uma democracia sólida também se constroi com participação democrática e diversidade. A presença de mulheres negras na política é fundamental para garantir uma representação genuína na tomada de decisões. Nós trazemos na pele perspectivas e vivências que frequentemente são negligenciadas no cenário político tradicional.
Nossa luta é por políticas públicas que fortaleçam a democracia e contribuam para a construção de uma sociedade mais justa para todas e todos. Sou fruto de políticas públicas inclusivas e quero seguir transformando a vida das mulheres do Rio. O exercício da cidadania e a garantia da democracia é uma luta de todas e todos nós. No dia 6 de outubro, vote consciente e a favor da vida de todas as mulheres.
Joyce Trindade é gestora pública formada pela UFRJ, ex-secretária de Políticas e Promoção da Mulher, coordena a Rede Estadual de Mulheres do Partido Social Democrático (PSD) e é pré-candidata a vereadora