Em sua coluna em “O Globo”, Gustavo Poli discorreu sobre a discussão de fair play financeiro que cresceu no futebol brasileiro recentemente. Na visão do jornalista, o X da questão está em um incômodo de outros com o Botafogo e com John Textor.
– Vamos remover o bode hipócrita da sala. O Brasil não está falando de fair play financeiro porque teve um acesso súbito de ética. Ou de preocupação com gestão e saúde dos clubes. O problema é o Botafogo — e o algo misterioso modelo de negócio de John Textor – afirmou Gustavo Poli.
– Muitos que hoje gritam nunca se preocuparam com contas em dia. Quase todo clube brasileiro já ganhou títulos endividado e pendurando a conta. Palmeiras e Flamengo têm méritos inequívocos de gestão e, de certo modo, plantaram a boa semente que forçou a concorrência a buscar soluções. A lei das SAFs apresentou um caminho para que entidades falidas atraíssem investidores. Botafogo, Vasco, Atlético-MG e Cruzeiro se agarraram a essa tábua. Mas aí um gringo resolve botar dinheiro grande e trazer talento pra cá… e o desequilíbrio vira problema? Antes não era? – indagou.
O colunista lembrou ainda que o Red Bull Bragantino nunca foi um incômodo a outros clubes e que estes não conseguem sequer formar uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro. Para ele, pode haver oportunismo nas críticas a John Textor no Botafogo.
– Alguém que se disponha a encarar uma dívida de R$ 1 bilhão… deve ter uma estratégia para faturar lá na frente. Podemos questionar qual é essa estratégia. A torcida do Botafogo, especialmente, deve se perguntar qual a lógica de uma operação deficitária que ainda não construiu uma academia. Mas… a súbita indignação com a grana de Textor soa quase oportunista – pontuou Gustavo Poli, que deixou uma reflexão.
– Hipocrisia à parte, a discussão é bem-vinda. Governança é uma necessidade. Regras claras que impeçam abusos também. Mas, além disso, a questão é que futebol queremos para o futuro? Um que emule um modelo em que os mesmos ganham quase sempre… ou algo mais parecido com as ligas americanas em que o teto salarial equilibra a competição? É uma pergunta que soa quase romântica na selva brasileira – concluiu.

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