Treinador do Botafogo, Luís Castro é colunista em “O Globo” durante a Copa do Mundo de 2022, realizada no Catar. Nesta quinta-feira (15/12), em belo texto, o português abordou pontos como as características dos semifinalistas (Argentina, Croácia, França e Marrocos) e, principalmente, o lado humano dos jogadores.
Castro destacou as virtudes das equipes.
“Observo e dou como exemplo as equipas que chegaram às semifinais: uma França afirmativa, com uma vontade incrível de concluir cada jogada com uma finalização e de ferir o adversário em cada ataque; Marrocos muito competitivo e assertivo na defesa da sua baliza; uma Croácia paciente, capaz de esperar pelo momento certo para chegar à vitória; e uma Argentina guerreira, que nunca dá um lance como perdido, que parece focada em chegar ao título e assim prestar homenagem àquele que é o seu líder maior: Lionel Messi“, escreveu o técnico alvinegro.
Contudo, o foco maior do treinador foi sobre as críticas atuais aos grandes jogadores. Segundo ele, “a forma como algumas das mais importantes figuras do futebol foram tratadas na hora da derrota não deixou de ser surpreendente. Parece ter-se perdido a razoabilidade na opinião, o sentido de justiça, o respeito por quem tanto brilho deu ao futebol e continua a dar. O brilho de hoje pode não ser o mesmo do passado, mas não deixa de haver nestes jogadores uma excepcionalidade. Não deixam de ter sido, tantas vezes, o principal motivo de orgulho de um povo em momentos difíceis.”
Cristiano Ronaldo foi citado e defendido pelo técnico do Botafogo, que lamentou o craque ter “se tornado vítima de uma opinião pública toldada por uma mistura perigosa de endeusamento e utilitarismo”, no qual é exigido “o virtuosismo e a impassibilidade de um deus”.
“Cristiano Ronaldo tornou-se alvo de uma opinião pública neste estado de pouca lucidez. Mal o seu rendimento quebrou, deixou de ser entendido como uma estrela, como um deus. ‘Quanto mais alto se sobe, maior é a queda’, diz o povo. Quando mais alto se coloca alguém, maior é a queda a que lhe induzem, diria eu, neste caso. De repente foram esquecidos todo o passado, todos os momentos em que, com muito mais preponderância do que todos os outros jogadores, tantas alegrias deu aos portugueses à custa do seu esforço. Não me caberá lançar em palavras a infinidade de momentos gloriosos de Ronaldo. Nem importa. Recordo apenas a sua humanidade, quando, sentado no relvado na final da Eurocopa conquistada por Portugal, chorava por não poder continuar em jogo, com uma célebre borboleta pousada na testa“, lembrou.
“A nossa maior preocupação deverá ser sempre a empatia, a defesa do ser humano, neste caso, a defesa de seres humanos que tantas alegrias nos deram, dão e darão; que tantas vezes contribuíram para uma afirmação de Portugal — não do nome Portugal, da ‘marca’ como é comum dizer-se hoje, mas dos portugueses, das pessoas, dos emigrantes que pé ante pé vão construindo a sua vida, dignamente, nunca libertos do peso dos trabalhos menores, dessa ilusão dura de que são menos. Sabendo que a sua carreira terá um fim, como tudo, e sabendo também que nem o abrandamento de rendimento poderá deixar de fazer dele um jogador extraordinário, espero, com toda a gratidão, os próximos capítulos do sucesso de Cristiano Ronaldo“, completou.