De um lado, um dos hotéis mais chiques do mundo, o Hilton, de outro um prédio que divide um ? dos pontos para atendimento ao turista da Riotur e a Gerência Executiva Local (GEL) de Copacabana, dois órgãos da Prefeitura do Rio que têm a atribuição de resolver os problemas da cidade. Mas, bem ali no belo projeto urbanístico do canteiro central da Avenida Princesa Isabel, que divide os bairros de Copacabana e Leme, moradores de rua tomam banho, em especial, nas primeiras quadras, as mais próximas da orla. O odor de urina dá para sentir de longe e é possível observar sujeira como garrafas nos arredores. Ao lado da estátua da princesa, um mastro com uma bandeira do Brasil….toda rasgada.
O ‘Lava Jato de Mendigos’, como já é apelidado por alguns moradores do bairro ocorre nos chafarizes ali no local e, mesmo com equipe Segurança Presente, não o intimidam às duchas e nem as abordagens de motoristas que param no sinal. A via ainda liga a orla ao Túnel Novo, que liga a região a Botafogo, e se torna travessia para turistas e cariocas na famosa virada do ano de Copacabana, que este ano, deve atrair um público de dois milhões de pessoas e está orçado em R$ 30 milhões. Pelos cantos, restos de quentinhas e isopores brancos que as continham.
O canteiro central também é composto por ciclovias, bancos e até uma escultura em bronze da redentora, do artista Edgar Duvivier, que ainda assina outras estátuas como Marielle Franco, inaugurada nas proximidades da Alerj, no Centro do Rio, e de Clarice Lispector, no Leme. Na época da inauguração, em 2003, a Princesa Isabel custou R$ 80 mil e mede 2,50 metros.
A comerciante Camila Ramos, de 40 anos, embora não se sinta ameaçada, acredita que não há desculpa de “problema social”. “Fui criada em Santa Catarina e as pessoas em situação de rua de lá não deixam tão sujo. Eles tentam cuidar ao máximo. Eu sempre passo no canteiro aqui em Copacabana e não sou incomodada, mas o cheiro é horrível”, conta Camila.
Babá de uma bebê, Gisela das Neves Santos, de 50 anos, se sente insegura, ainda mais quando passeia com a criança. “Tanto ali como a Praça do Lido estão cheias deles. Um dia, tive que entregar até um sorvete que eu estava tomando, pois me abordaram, intimidando. Seria um ótimo local para passear com a pequena no carrinho, mas tenho medo e prefiro a calçada, perto das lojas”, reclama.
Vereador licenciado por ocupar função de secretário de Estado, Rogério Amorim ressalta que a situação da cidade e pontos como a Princesa Isabel têm motivado preocupação e garantiu que debaterá com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, as condições da via. “Estamos sempre cobrando, mas as festividades como Ano Novo e a chegada do verão aumentam essa preocupação. Na quinta, a situação da Princesa Isabel entrará na pauta da reunião que tenho na Prefeitura, agendada para quinta-feira”,adianta.      
Responsável pelo acolhimento dos moradores de rua, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) informa que o bairro integra cotidianamente os roteiros do Serviço de Abordagem Social e que há ações diárias, em três turnos (manhã, tarde e noite), inclusive aos domingos.
De acordo com o órgão, a SMAS realizou, em Copacabana, 2.534 atendimentos (podendo uma pessoa ser atendida mais de uma vez) e resultou em 427 acolhimentos. “Cerca de 10% desses atendimentos ocorreram na Avenida Princesa Isabel, que é uma área prioritária”, diz a Secretaria, em nota.
A SMAS ainda lembra que a população em situação de rua possui autonomia para aceitação ou não do acolhimento institucional e/ou demais encaminhamentos disponibilizados, conforme determina a legislação de Direitos Humanos e que firmou, em 2012, o Compromisso de Ajustamento de Conduta, com o Ministério Público, como garantia destes tais ”direitos” dos usuários atendidos. Meses atrás, um editorial do DIÁRIO falou sobre o tal Compromisso.