Nos últimos três meses, os fundadores da NotCo se reuniram com o conselho da empresa. Em pauta, estava a discussão se haveria necessidade de estender a rodada de série D de US$ 235 milhões realizada em julho do ano passado e que transformou a foodtech chilena em um unicórnio avaliado em US$ 1,5 bilhão.
“Estávamos tendo acesso a mais capital e houve um questionamento se deveríamos ou não aceitar”, diz Matías Muchnick, cofundador e CEO da NotCo, ao NeoFeed. Por um lado, uma nova captação significaria diluir mais equity. Por outro, havia a consciência de que esta era uma oportunidade rara em um momento delicado do mercado de venture capital.
A resposta foi dada oficialmente nesta segunda-feira, 12 de dezembro, quando a NotCo anunciou ao mercado a captação de mais US$ 70 milhões. O aporte é liderado pela Princeville Capital, que faz sua primeira injeção de capital na foodtech. Quem também estreia no captable é o argentino Marcos Galperin, fundador e CEO do Mercado Livre.
A extensão da rodada foi acompanhada por outros investidores que já faziam parte do negócio como a própria Tiger Global, que liderou o aporte de Série D, L Catterton, Kaszek, Future Positive, The Craftory e DFJ Growth, além da Bezos Expeditions, de Jeff Bezos.
“Decidimos não desperdiçar esta oportunidade de colocar mais dinheiro no banco e ficar fora do mercado pelos próximos cinco anos”, diz Muchnick, que cita o cenário geopolítico e questões macroeconômicas como obstáculos que fazem como que 2023 possa ser “assustador”. “O mercado está preocupado com o que vai acontecer.”
Esta nova injeção mantém os termos acordados anteriores, o que significa que não houve down round – que é quando o valor de mercado de uma empresa diminui a partir da venda de equity por preço inferior ao realizado em rodada anterior. “Se não fosse assim, o round não teria acontecido”, diz Muchnick.
De acordo com empreendedor, a Princeville, que com a NotCo faz seu primeiro aporte numa empresa na América Latina, já havia demonstrado interesse em entrar na operação em rodadas anteriores. Isso só não foi feito porque não houve acordo em relação ao tamanho do cheque ou da rodada realizada.
O dinheiro será usado para garantir maior segurança financeira para a companhia. “Vamos colocar mais dinheiro no banco e ficar fora do mercado pelos próximos cinco anos”, diz Muchnick. Assim, a tendência é de que a próxima captação ocorra com uma eventual abertura de capital.
Para não recorrer mais aos investidores, a NotCo planeja se tornar uma empresa lucrativa em dois anos. “Mudamos a forma de pensar em growth“, diz Muchnick. “Vamos sacrificar o crescimento para o aumento das margens.” O plano original era de breakeven somente daqui cinco anos.
O que pode ajudar a fazer isso é o crescimento da frente B2B, que vai receber maior atenção a partir deste aporte e pode representar até metade do negócio nos próximos cinco anos. Os alimentos da startup já fazem parte do cardápio de redes como Burger King, Shake Shack, Starbucks e Dunkin Donuts.
Além disso, em fevereiro deste ano, a NotCo firmou uma joint venture com a Kraft Heinz, controlada pela 3G Capital e por Warren Buffet. Com sede em Chicago e um centro de desenvolvimento em São Francisco, a iniciativa tem o objetivo de criar versões plant-based dos alimentos da Kraft-Heinz.
A linha de produtos atual da NotCo conta com substitutos de proteína vegetal para laticínios como leite, creme de leite, sorvete e achocolatado proteico, além de uma de linha de opções de maionese que não levam ovo em sua fórmula e versões veganas para substituir carne bovina e de frango.
Expansão brasileira
Presente em 12 países, sendo a maior parte na América Latina além de Estados Unidos e Austrália, a NotCo não planeja desembarcar em novos mercados nos próximos anos, seguindo a cartilha atual de não apostar em crescimento agressivo para preservar caixa. Isso não significa, contudo, que a empresa vai parar de expandir.
O Brasil é um exemplo. Por aqui, a startup já investiu R$ 150 milhões e neste ano expandiu sua operação para estados como Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, além do Distrito Federal. Para 2023, o foco é levar os produtos para a região Nordeste, ainda pouco atendida pela NotCo. Ao todo, são 2 mil pontos de venda no país.
O que também deverá ser feito no ano que vem é a abertura de um novo escritório em São Paulo. A estrutura será maior e vai abrigar uma cozinha experimental para que sejam realizados testes de novos produtos.
A competição no plant-based se tornou mais acirrada nos últimos anos no Brasil. A NotCo passou a ter que competir contra gigantes como JBS, BRF e Marfrig, além da Fazenda Futuro, avaliada em mais de R$ 2,2 bilhões.
Outras startups menores também passaram a incomodar. Uma delas é a The New, controlada pela Lever VC, a investidora das gigantes Beyond Meat e Impossible Foods.
Na disputa está também a Typcal, ex-100 Foods, que recebeu recentemente um investimento seed liderado pela Futurum Capital. O cheque contou também com a participação do medalhista olímpico e ex-técnico da seleção brasileira masculina de vôlei Bernardinho, que também investe na NoMoo, de laticínios veganos.
Fonte: Neofeed
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