Italiana Zucchetti já comprou três empresas brasileiras fundadas no estado, uma delas por mais de R$ 100 milhões; CEO detalha a estratégia
Do interior de Santa Catarina, a pequena cidade de Concórdia, de pouco mais de 70.000 habitantes, atraiu holofotes para si conquistando uma multinacional italiana por seu ecossistema empreendedor pujante e com inclinação à inovação tecnológica.
Com casos de sucesso pouco conhecidos, o município já tem na conta histórias de sucesso para compartilhar. O mais notável deles é, talvez, o da Sadia, marca de alimentos que teve em Concórdia sua origem ainda em 1944. Atualmente, a Sadia se une à Perdigão na oligarquia que compõe o grupo BRF, um dos maiores do mundo.
Com uma economia de base centrada na agropecuária, especialmente na criação de aves e suínos, poderia ser incomum relacionar o pequeno município no Oeste do estado a um local essencialmente tecnológico. Poderia. De tempos para cá, Concórdia passou a ser sede de múltiplas empresas do setor, com destaque para desenvolvedoras de software de ponta.
Em face do crescimento vertiginoso dessas empresas, companhias com destaque global passam a voltar seus olhares para o pequeno município de 70.000 habitantes — e para empresas lá criadas. É o caso da Smallsoft e da Gdoor, duas companhias de tecnologia para o varejo adquiridas pela multinacional italiana Zucchetti em transação de R$ 140 milhões anunciada nesta segunda, 12.
O que faz a Zucchetti
A Zucchetti trabalha com desenvolvimento de tecnologia, como softwares e programas de gestão empresarial. A empresa foi fundada há 40 anos, na Itália, e em 2022 comemora seu 11º aniversário também em terras brasileiras.
A Zucchetti tem faturamento de mais de 1,3 bilhão de euros por ano, algo como R$ 7,2 bilhões. São, ao todo, 8.000 colaboradores e 800.000 clientes globalmente, em uma operação presente em mais de 50 países — 11 deles com operações próprias. No Brasil, o destaque está na criação de soluções voltadas a setores como:
Indústria, com softwares para gestão
Recursos humanos, com soluções para gestão de times e avaliações de desempenho
Varejo, com produtos para controle de estoque e outras métricas para gestão do ponto de venda (PDV)
Por que a empresa está fazendo aquisições
Em paralelo à chegada da empresa no país está a aposta na estratégia de fusões e aquisições, uma extensão do modo da italiana operar globalmente — em 40 anos, foram mais de 150 aquisições internacionais. Desde que criou uma vertical brasileira, a Zucchetti também tem crescido inorganicamente, tendo comprado sete empresas nos últimos 11 anos.
Segundo Alessio Mainardi, CEO da empresa no Brasil, o racional por trás dos cheques está no potencial do país em se tornar uma espécie de “laboratório” para a testagem das soluções da Zucchetti em larga escala. “O nome da Zucchetti é mundialmente reconhecido, mas não somos o desenvolvedor de software para gestão mais comum à mente dos brasileiros. Por isso, acreditamos que ir atrás de empresas já estabelecidas faz mais sentido”, diz.
Com as duas novas compras, a ideia é também estabelecer o nome da Zucchetti entre as companhias dedicadas à digitalização do pequeno varejo.
A Smallsoft, por exemplo, cria softwares de automação comercial esses estabelecimentos, com uma tecnologia de emissão de documentos fiscais eletrônicos, controle de estoque, cadastros e financeiro para uma base de 19.000 clientes. Já a Gdoor é voltada à gestão de micro e pequenos varejos, com uma tecnologia para vendas, emissão de cupons e notas, gestão financeira, controle de estoque e geração de arquivos fiscais. A base de clientes aproximada é de 37.000.
Por que Concórdia?
Com a compra da Smallsoft e da Gdoor, a Zucchetti também traz novo fôlego à uma estratégia pouco usual entre grandes companhias: o olhar atento a empresas que nascem no interior dos estados. Trata-se de um movimento que começou ainda em 2020, quando a Zucchetti comprou a Compufour, especializada em sistemas de gestão para micro e pequenas empresas — e também de Concórdia.
À época, a integração do negócio ao dia a dia da Zucchetti partia da ideia dos europeus de que o mercado de soluções para PMEs varejistas, por aqui, ainda era incipiente. O principal concorrente no páreo era a Linx, gigante de gestão, mas que desenvolvia soluções para empresas de maior porte. Sem representantes de pompa para disputar um mercado que soma milhões de pequenos negócios, a Zucchetti decidiu trazer para si a Compufour, atualmente com 43.000 clientes, em uma transação superior a R$ 100 milhões.
Coincidência ou não, as duas novas aquisições em território brasileiro, após a bem-sucedida relação com a Compufour, também envolvem empresas fundadas na cidade de Concórdia. Agora, o município passa a ter o maior número de funcionários da Zucchetti no Brasil.
Para Mainardi, ainda que tenha sido agnóstica na seleção da cidade de onde parte suas novas adquiridas, ecossistemas pequenos, como os de Concórdia, fomentam a criação de novos empreendedores capazes de chamar a atenção do mercado. “Essa dinâmica de Concórdia, onde vemos uma empresa em que um sócio já foi sócio de outras e que muita gente se conhece, pode dar indicações e assim por diante, favorece negócios”, diz. “O local em que estão as empresas é pouco relevante para nós. Mas a verdade é que o ambiente familiar ajuda e muito”.
Os planos da Zucchetti
Com as novas aquisições, a Zucchetti pretende estar mais próxima da liderança do mercado de gestão e automação para o micro e pequeno varejo, com algo em torno de 100.000 clientes ativos.
Agora, a ideia é aproveitar as carteiras robustas das duas empresas para crescer com ajuda de uma base já familiarizada às tecnologias criadas pelas catarinenses, ainda que rotule as soluções como próprias. “Vamos manter as linhas de produtos, mas com uma comunicação que remeta à Zucchetti. Queremos ser “top of mind” no nosso segmento”, diz o CEO. “Queremos subir de nível e brigar com os grandões que já estão no mercado”.
Em um futuro próximo, Mainardi também avalia a possível incursão da operação brasileira da Zucchetti aplicado a redes de hotelaria, algo já azeitado na Europa. “Pensamos em sistemas que ajudem hotéis que têm bares e restaurantes em suas instalações e grupos, por exemplo, e precisam descomplicar essa gestão de vendas”, explica.
Fonte: Exame
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